Cérebro

Cérebro e aprendizagem

Cérebro – É uma massa nervosa que se encontra protegida por uma estrutura óssea, a caixa craniana. Diferentemente da medula, a parte interna do cérebro contém substância branca, sendo a exterior o córtex cerebral constituída por substância cinzenta. O córtex é a estrutura nervosa que assegura a superioridade humana, isto é, a enorme capacidade de processar informações e de atribuir significados às situações e aos acontecimentos do mundo.

 

Aprendizagem – É o método que consiste em estabelecer conexões entre certos estímulos e determinadas respostas, cujo resultado é aumentar a adaptação do ser vivo ao seu ambiente.

 

A aprendizagem é um “mix” de memória, atenção, concentração, interesses, desejos, estímulos intrínsecos (neurotransmissores/hormônios) e extrínsecos (informações externas do ambiente) que permeiam a mente e o cérebro humano.

Quando mais aprendemos mais conexões neurais formamos...

A plasticidade cerebral é a capacidade do sistema nervoso de alterar o funcionamento do sistema motor e percetivo baseado em mudanças no ambiente, através da conexão e (re) conexão das sinapses nervosas, organizando e reorganizando as informações dos estímulos motores e sensitivos, sendo controladas por grupos especiais de neurónios (células glias).

Somos o que vivenciamos, experimentamos e lembramos…

Aprende-se com o cérebro, e todas as ações perpassam como um filme na máquina fotográfica, ou comparando a um hardware, onde vários softwares são “rodados” por meio de impulsos elétricos, e pela centelha dos afetos ou desafetos existentes e recebidos ao longo de nossas vidas.

O cérebro sozinho não possui função nenhuma, ele só estabelece um funcionamento quando em conjunto com outros sistemas que se interconectam, recebem e respondem aos estímulos para realizar um potencial de atividades elétricas e químicas.

 

Sinapse 

É uma junção funcional em que ocorre a transmissão de informação entre dois neurónios ou entre um neurónio e uma outra célula.

A energia nervosa é de dois tipos: elétrica e química. Ao nível das dendrites, a energia é elétrica; ao nível da sinapse, o impulso nervoso transforma-se em energia química. As mensagens nervosas ocorrem, portanto, por processos eletroquímicos.

A função principal do neurónio é a transmissão de impulsos nervosos. Quando um neurónio é estimulado, as suas características elétricas ou químicas alteram-se produzindo uma corrente. Esta corrente, constituída pelos impulsos nervosos, que circulam nos nervos, designa-se por influxo nervoso.

 

 

Comunicação nervosa

A informação tem que circular, de modo que o cérebro receba informações acerca do que se passa no organismo. Os nervos são o veículo de mensagens entre o sistema nervoso central, os órgãos sensoriais, os músculos e as glândulas.

Ao nível dos nervos, a mensagem circula pelos neurónios, mais concretamente, é recebida pelas dendrites e processada no corpo celular, posteriormente é transportada pelo axónio até às telodendrites, que libertam neurotransmissores para a fenda sináptica permitindo a sua ligação às dendrites do neurónio pós sináptico, onde continua a propagação da mensagem.

 

Funções da espinal medula: Coordenação – é responsável pela coordenação das atividades reflexas, que são comportamentos automáticos e involuntários; e Condução – transmite/conduz mensagens do cérebro para o resto do corpo e vice-versa.

Funções do cérebro: assegura a superioridade humana na medida em que responde a todas as atividades que requerem soluções mais complexas.

 

Especificidade das áreas pré-frontais

As áreas pré-frontais (córtex frontal) são responsáveis pelas principais funções intelectuais superiores que distinguem a espécie humana de todas as outras: reflexão, atenção, imaginação, previsão, planificação, deliberação... Têm uma relação com a memória, permitindo-nos recordar o passado, planear o futuro, resolver problemas, antecipar acontecimentos, refletir, tomar decisões, criar o próprio mundo. Organizam o pensamento reflexo e a imaginação. Permitem-nos ter consciência das funções acima referidas. Têm uma relação complexa com as emoções. As relações entre o córtex pré-frontal e as emoções dão-se nos dois sentidos: por um lado, o córtex apoia-se nas informações emocionais para tomar decisões adaptadas, por outro lado, tem um papel de inibidor das emoções.

 

Função de suplência

Função do cérebro que permite que uma tarefa perdida seja recuperada por uma área vizinha da zona lesionada. É graças a esta função que as pessoas que perdem a fala devido a um acidente cerebral acabam por recuperar a capacidade perdida.

 

Hemisférios cerebrais

Hemisférios cerebrais – O córtex humano é atravessado por uma fenda longitudinal, que divide o cérebro em duas metades quase simétricas, denominadas por hemisférios cerebrais. Existe o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo.

 

Hemisfério esquerdo-> simbologia, lógica, pensamento analítico, linear e verbal; ciência e tecnologia. Acidentes, tromboses e tumores neste hemisfério provocam distúrbios na leitura, na escrita, na fala, no raciocínio aritmético e, em geral, na capacidade de compreender.

 

Hemisfério direito-> organização de percepções espaciais, pensamento sintético, holístico e icónico, música, imaginação e arte. De uma maneira geral, as lesões neste hemisfério não têm efeitos tão dramáticos como as que ocorrem no hemisfério esquerdo.

 

Especialização dos Hemisférios Cerebrais

+ Lateralização

    - As funções cerebrais estão localizadas em determinadas áreas, tornando-os especializados.

    - Os próprios hemisférios cerebrais, embora semelhantes anatomicamente, desempenham funções diferentes (lateralização).

+ Apesar da especialização, o cérebro é um sistema, ou seja, uma unidade interativa onde se geram relações de interdependência entre diferentes áreas.

+ A função variante que permite realizar uma substituição funcional em caso de coesão de determinadas áreas, é a prova de que o cérebro funciona como um todo.

 

 

Neurónio

Os neurónios são células especializadas responsáveis por grande parte das funções do sistema nervoso. Contém três regiões distintas: o corpo celular ou soma, as dendrites e o axónio.

Constituição do Neurónio:

Corpo celular – contém o núcleo que é o armazém de energia da célula. Fabrica proteínas sob o controlo do ADN presente no núcleo celular. É o centro metabólico do neurónio.

 

Dendrites – são extensões do corpo celular. Graças às dendrites, o neurónio apresenta uma maior superfície de receção e emissão de mensagens. Estas ramificações múltiplas recebem e transmitem informação de e para outras células com as quais o neurónio estabelece contactos.

 

Axónio – prolongamento mais extenso do neurónio e transmite mensagens de um neurónio a outro (ao corpo celular ou as dendrites) ou entre um neurónio e uma célula efetora muscular ou glandular. Há axónios que estão envolvidos por camadas de mielina, que é uma substância branca de matéria gorda; outros são só constituídos por substância cinzenta. O axónio, e certas dendrites de um neurónio, constituem uma fibra nervosa. Ao conjunto de fibras nervosas envolvidas por uma membrana dá-se o nome de nervos.

 

Tipos de Neurónios

Neurónios aferentes ou sensoriais: são afetados pelas alterações ambientais e ativados pelos vários estímulos com origem no interior ou exterior do organismo. Recolhem e conduzem as mensagens da periferia para os centros nervosos: espinal medula e encéfalo.

 

Neurónios eferentes ou motores: transmitem as mensagens dos centros nervosos para os órgãos efetores, isto é, os órgãos responsáveis pelas respostas, que são os músculos e as glândulas; a sua função é, por exemplo, que um músculo se contraia ou que uma glândula modifique a sua atividade.

 

Neurónios de conexão ou interneurónios: interpretam as informações e elaboram as respostas. A atividade destes neurónios torna possível, entre outras as nossas funções superiores como a capacidade intelectual, as emoções e as capacidades comportamentais.

 

 

 

Plasticidade e complexidade

 

Inicialmente a organização cerebral e o funcionamento do sistema nervoso eram considerados definidos geneticamente, isto é, o homem teria um programa predeterminado que definia a sua estrutura e as funções das várias áreas. O que caracterizava o cérebro era a estabilidade das suas conexões, que eram consideradas imutáveis e considerava-se também que o cérebro era um órgão que atingia o auge da sua capacidade e força ao fim da puberdade e que estaria condenado a degradar-se progressivamente à medida que a idade avançava.

Com o avanço da ciência demonstrou-se que o cérebro é um órgão maleável, modificando-se com as experiências, percepções, acções e comportamentos do Homem, ou seja, a relação que o Homem estabelece com o meio produz modificações no sentido de uma adaptação mais eficaz.

Foi através da maleabilidade do cérebro que foi possível chegar ao conceito de plasticidade cerebral, a capacidade do cérebro se remodelar em função das experiências do sujeito, em reformular as suas conexões em função das necessidades e dos factores do meio ambiente, permitindo assim uma aprendizagem ao longo da vida.   

Para comprovar a plasticidade do cérebro foram realizadas investigações com cegos adultos,  as experiências feitas com cegos adultos que começaram a aprender Braille vieram provar a neuroadaptabilidade do cérebro, ou seja, as informações provenientes do dedo que lê Braille activavam também as partes dos córtex visual.

Outra prova da plasticidade cerebral é que quando determinadas áreas sofrem lesões que comprometem as suas capacidades, outros neurónios que se encontram nas zonas vizinhas assumem as funções das áreas danificadas.

É este carácter plástico do cérebro humano que o disponibiliza para a aprendizagem ao longo de toda a vida.

 



Lesões cerebrais

É a destruição ou degeneração das células do cérebro.

A lesão cerebral pode ocorrer devido a uma vasta gama de condições, doenças ou traumas. As causas mais comuns de lesão cerebral são os Traumatismos crânio-encefálicos  (TCE) e os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC). Outras causas possíveis de lesão cerebral difusa incluem hipoxia prolongada (falta de oxigénio), envenenamento, infeção tais como meningites ou encefalites, e moléstias neurológicas.

A extensão e o efeito da lesão cerebral é frequentemente avaliado pelo emprego de exame neurológico, tomografia e testes de avaliação neuro-psicológica.

Uma lesão cerebral não resulta necessariamente numa deficiência ou incapacidade de longo prazo, embora a localização e extensão do dano tenham um efeito significativo na resultante provável. Em casos sérios de lesão cerebral, o resultado pode ser incapacidade permanente, incluindo deficit neuro-cognitivo, alucinações, problemas de fala ou movimento e atraso mental. Lesões cerebrais graves podem resultar em estado vegetativo, coma ou morte.

As dificuldades cognitivas  (do funcionamento mental) após uma lesão cerebral podem ser muito evidentes, e o paciente fica incapacitado para a maior parte de suas atividades pois não é eficiente ao raciocinar, lembrar, decidir e cuidar de sua própria vida. Em outras situações, as dificuldades cognitivas são mais subtis, e demora até que os familiares e pessoas próximas notem que a pessoa está diferente na forma de pensar, na capacidade de memorizar, expressar-se ou de resolver problemas de sua vida cotidiana. Muitas vezes, as dificuldades cognitivas subtis são interpretadas como preguiça ou desânimo, porque a pessoa não consegue ser bem sucedida na sua vida, embora esteja aparentemente bem.

 

+ Lobos Cerebrais

 

Cada hemisfério cerebral é constituído por quatro lobos  – frontal, parietal, occipital e temporal – que têm funções específicas, actuando de forma coordenada e complementar.

Os Lobos Occipitais estão situados na parte inferior do cérebro, esta área é também designada por córtex visual, porque processa os estímulos visuais. Depois de percebidos por esta área – área visual primária – estes dados passam para a área visual secundária ou área visual de associação. A área visual, ou córtex visual, comunica com outras áreas do cérebro que dão significado ao que vemos tendo em conta a nossa experiência passada, as nossas expectativas.

O nosso cérebro é orientado para discriminar determinados estímulos.

Os Lobos Temporais situam-se na zona por cima das orelhas, processam os estímulos auditivos. Os sons produzem-se quando a área auditiva primária é estimulada. A área de associação – área auditiva secundária – recebe os dados e, em interacção com outras zonas do cérebro, permite-nos reconhecer o que ouvimos.

Os Lobos Parietais localizados na parte superior do cérebro, têm duas subdivisões: a anterior e a posterior. A primeira, o córtex somatossensorial, possibilita a recepção de sensações (o tacto, a dor, etc.). Nesta área primária, responsável pela recepção de estímulos que têm origem no ambiente, estão representadas todas as áreas do corpo. A área posterior é uma área secundária que analisa, interpreta e integra as informações recebidas pela área anterior ou primária, que permite a localização do nosso corpo no espaço, o reconhecimento dos objectos através do tacto, etc.

 

NOTA: a área de Wernicke, zona onde convergem os lobos occipital, temporal e parietal, desempenha um papel muito importante na produção do discurso. Permite-nos compreender o que os outros dizem e que nos faculta a possibilidades de organizarmos as palavras em frases sintacticamente corretas.

Os Lobos Frontais, situados na parte da frente do cérebro, são responsáveis pelas actividades cognitivas que requerem concentração, pelos comportamentos de antecipação, planificação de actividades, pensamento abstracto, memória de trabalho, raciocínio complexo, intervindo também na regulação das emoções. Uma das diferentes partes dos lobos frontais é o córtex motor, responsável pelos movimentos da responsabilidade dos músculos. Por trás do córtex motor, fica situada a área de Broca, responsável pela linguagem falada e pela produção do discurso. Esta relaciona-se com a área de Wernicke: a forma e as palavras adequadas são seleccionadas por esta área e depois passadas para a área de Broca, traduzindo-as em sons que serão transformados em movimentos adequados a produzir o discurso.